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quarta-feira, 16 de novembro de 2011

censura na China

Era uma meditação sobre o mal-estar causado pela censura. "A escrita chinesa exibe sintomas de um distúrbio mental", pretendia dizer ele. "Este é um escrito castrado. Sou um eunuco proativo, me castro antes mesmo de o cirurgião erguer o bisturi."

Os organizadores da cerimônia o proibiram de proferir o discurso. Sobre o palco, Murong fez um gesto de quem fecha a boca com zíper, e saiu sem dizer palavra.

Ele então fez com o discurso o que havia feito com três dos seus romances de sucesso, todos eles submetidos a uma rigorosa censura: colocou na internet o texto sem cortes. Os fãs foram atrás.

Shiho Fukada/The New York Times

Murong Xuecun em sua casa em Pequim; o escritor é grande crítico da censura na China

Murong Xuecun é o pseudônimo de Hao Qun, 37, um dos mais famosos numa safra de escritores chineses que se tornaram sensações editorais na última década graças ao uso astuto que fazem da internet.

Os livros de Murong são picantes, violentos e niilistas, com histórias de empresários e autoridades envolvendo-se em subornos, brigas, bebedeiras, jogos de azar e programas com prostitutas nas prósperas cidades chinesas.

O simples fato de seus livros serem publicados na China mostra como o setor, outrora muito controlado pelo Estado, está mais voltado para o mercado.

Mas a prosa de Murong inevitavelmente esbarra na censura. O autor se diz um "criminoso da palavra" aos olhos do Estado e um "covarde" aos seus próprios olhos, por recorrer à autocensura. Ele contou que já abandonou pela metade dois romances que suspeitava que jamais seriam publicados.

"O pior efeito da censura é o impacto psicológico sobre os escritores", disse Murong.

"Quando eu estava trabalhando no meu primeiro livro, não me importava se ele seria publicado, então escrevi o que quis. Agora, após ter publicado alguns livros, posso sentir claramente o impacto da censura quando escrevo. Por exemplo, penso em uma frase, e aí percebo que ela certamente será suprimida. Então nem a escrevo. Essa autocensura é o pior."

Suas frustrações o levaram a se tornar um dos mais inflamados críticos da censura na China. Após fechar a boca em novembro de 2010 em Pequim, ele leu publicamente seu discurso proibido três meses depois, em Hong Kong.

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