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terça-feira, 15 de novembro de 2016

Série de TV da Casa de Cinema de POA disseca clássicos brasileiros

São muitos os filmes que se eternizam na memória coletiva fragmentados em cenas capazes de estenderem sua força e beleza ao conjunto todo. Como a câmara em movimento que circunda Norma Bengell em Os cafajestes, a anárquica cerimônia de coroação de Terra em transe ou a galinha em fuga de Cidade de Deus. Na série Grandes cenas, que o canal por assinatura Curta! estreia nesta quarta-feira, às 23h45min, serão analisadas a cada semana sequências antológicas do cinema latino-americano. O ator Matheus Nachtergaele é o mestre de cerimônias dos 22 episódios semanais com cerca de 18 minutos cada. No primeiro, o diretor Hector Babenco, em depoimento registrado pouco antes de sua morte, em julho passado, fala sobre como concebeu o maternal quadro ilustrado por Marília Pera e Fernando Ramos da Silva em Pixote, a lei do mais fraco. Leia todas as críticas e notícias de cinema em ZH Grandes cenas é uma realização da Casa de Cinema de Porto Alegre, com direção de Ana Luiza Azevedo e Vicente Moreno. O projeto teve origem no núcleo criativo da produtora e levou pouco mais de um ano entre o início da produção e sua finalização. – Discutíamos no núcleo como andam raras as grandes cenas no cinema e na TV do Brasil e também os conceitos estéticos e dramatúrgicos que constituem uma grande cena, da atuação à construção da mise en scène – conta Ana Luiza. – Pensamos na série a partir de uma ideia lançada por Jorge Furtado (sócio de Ana na Casa de Cinema). Existem muitos programas dedicados à análise de filmes e de diretores, mas nenhum com esse foco. Levamos à proposta ao Curta!, que a abraçou e propôs que abríssemos a análise ao cinema latino-americano. Foram então incluídos entre os 22 longas-metragens a serem dissecados – 12 deles na primeira temporada da série (veja a relação abaixo) – quatro títulos argentinos e um uruguaio. O processo de seleção dos filmes nacionais teve de deixar pelo caminho obras cujos direitos autorais têm negociação complexa, como O pagador de promessas e Vidas secas. – Estabelecemos como critério não avançar além do chamado fim do processo de retomada da produção nacional e selecionar filmes que tivessem integrantes da equipe para falar sobre eles – explica Moreno. – O longa mais recente é Cidade de Deus, de 2002, e o mais antigo é Os cafajestes, de 1962. Procuramos também combinar cenas que são incontornáveis com outras não óbvias, que se destacam por aspectos aparentemente não tão evidentes. O (diretor) Bruno Barreto, por exemplo, ficou feliz com nossa opção por uma sequência de O romance da empregada, e não do sucesso Dona Flor e seus dois maridos. O (cineasta argentino Juan José) Campanella gostou de falar sobre O clube da lua, e não sobre o oscarizado O segredo dos seus olhos. A estrutura de cada capítulo traz uma análise conceitual e técnica da cena feita por alguém diretamente envolvido na sua realização (diretor, ator, roteirista, fotógrafo, montador), seguida por sua exibição na íntegra. Os depoimentos foram registrados em Porto Alegre, no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Buenos Aires. Ana Luiza destaca ainda, para além da análise formal, a ligação emocional dos entrevistados com as cenas recordadas: – Ao rever sua personagem em Eles não usam black-tie, Fernanda Montenegro lembrou da amizade com o (diretor) Leon Hirszman e o (ator) Gianfrancesco Guarnieri (ambos falecidos), do contexto afetivo e político ali envolvidos. Essa primeira leva de 12 episódios traz outros dois filmes argentinos: O pântano, de Lucrecia Martel, e O guardião, de Rodrigo Moreno. Entre os próximos 10, ainda sem data de exibição prevista, está outro argentino, Abutres, de Pablo Trapero, e o uruguaio Whisky, de Juan Pablo Rebella e Pablo Stoll, ambos analisados por seus diretores. Da seleção nacional, serão discutidos mais adiante, entre outras, produções referenciais com São Paulo S.A., de Luis Sérgio Person, e Central do Brasil, de Walter Salles.

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