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terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Análise: Sem Pedro Bial, pior reality show da TV perde credibilidade

Assistir à estreia de Big Brother Brasil 17, sem Pedro Bial, me espantou. O reality da Globo, em longa carreira, tinha no jornalista um contraponto entre a bobeira geral e uma certa credibilidade. Como se a porcaria se submetesse, de certa forma, ao padrão de qualidade da emissora do Jardim Botânico, em tempos em que o Projac ainda não estava finalizado. Bial emprestava ao programa um ar de ironia e irreverência, como a dizer: "Vocês são isso mesmo?". Criticava os concorrentes, fazia questionamentos parecidos com aqueles que qualquer espectador faria. Dava ao programa um verniz de coisa relevante. Além de prêmios consideráveis, em dinheiro e em produtos. O BBB sempre foi um sucesso comercial, mas de audiência declinável ao longo dos anos. Nem sei o resultado dessa nova temporada. O fato é que fatura em patrocínios e na exposição de produtos comerciais nas provas de líder e outras versões subliminares de publicidade. Uma marca aqui, outra ali. Tudo em grana à vista. No entanto, até do ponto de vista comercial, foi se acadelando. A ponto de não ser possível discernir se ainda vale à pena. Sob pena de constranger o padrão da emissora. E será que tal padrão, na era pós-Boni, ainda vale? Convivi com o Pedro Bial no Globo Repórter. Nunca fomos chegados, mas tenho dele uma recordação inarredável. Durante a guerra da Bósnia, se deslocando em Sarajevo, no interior de um blindado das Nações Unidas, com colete à prova de balas, Bial entrevistou um franco-atirador sérvio. O cara ficava sentado num banquinho matando qualquer pessoa que passasse por uma ponte. O assassino e Bial travaram um diálogo insólito: – Quantas pessoas você matou? – perguntou Bial. – Acho que foram umas dez. Não... acho que foram umas cem... Sabe de uma coisa? Estou enlouquecendo – disse o atirador. Essa qualidade de jornalista foi escolhida para comandar o BBB por uma razão muito simples: dar alguma credibilidade ao pior reality do país. O próprio repórter, em notas na mídia, declarou que jamais seria um concorrente do espetáculo de bobagens que comandava. No entanto, a ausência do Pedro Bial causa enorme dano. Ele não é facilmente substituível. Tratava os competidores com mordacidade, sugeria que eram uns completos imbecis. Fazia com que o público se identificasse com a sua opinião. E nisso estava a essência do programa: somos idiotas, mas nem tanto. E as reações do público coincidiam com a do apresentador. Além do mais, Bial criava textos poéticos, quase literários, para definir vencedores. Passar por esta 17ª versão do game, sem ele, será um desastre.

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