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terça-feira, 10 de maio de 2011

O Thomaz não é um novo Guga, é capricorniano, diz "pentelho" Larri

técnico de Thomaz Bellucci, Larri Passos, admitiu que não gosta de ficar estático e admite que é "pentelho" com seus tenistas.

Larri altera saque e bota o 'batata quente' Bellucci no surfe
Bellucci estreia em Roma por volta das 11h desta terça
Homem responsável por levar Gustavo Kuerten ao topo do ranking mundial e à conquista de três Roland Garros, Larri conta detalhes sobre Bellucci e diz que apelou para beijos e carinhos para reforçar o lado mental do tenista.

Marlene Bergamo - 04.jan.2011/Folhapress

Bellucci e Larri Passos durante treino em academia de São Paulo, em janeiro

O treinador até compara o seu atual comandado com Guga. Mas apenas de leve.

"Eu sempre achei o Thomaz um jogador agressivo como o Guga", disse. "Ele também me surpreendeu pela capacidade sensorial, que é muito rápida. É um dom que o Guga também tinha, de entender o jogo. O posicionamento dele ainda não é como eu quero, mas eu já vieram me dizer que viram um pouco do Guga ali na quadra", completou.

Leia a íntegra abaixo da entrevista de Larri dada na capital espanhola:

No jogo contra Novak Djokovic, Bellucci dominou a partida por um set e meio, mas depois se perdeu. O que houve?

O Djokovic estava com a corda no pescoço. Mas uma bola escapou no segundo set, um "drop shot" que escapou por três centímetros, e eu vou dormir agora pelas próximas duas semanas pensando nisso. Quando um jogador Top 10 quando está no buraco, ele busca essa brecha e agarra. Lamento o jogo ter escapado naquele momento, mas faz parte.

A questão emocional pesou?

Não, nada. O Thomaz está com um plano emocional muito bom. Antes eu via no Thomaz um jogador de tênis. Hoje já estou vendo um competidor e vencedor. Há uma diferença muito grande entre os dois. Os caras já começam a respeitá-lo.

Marlene Bergamo - 04.jan.2011/Folhapress

Larri Passos comanda treino de Thomaz Bellucci; técnico trabalha com emocional do tenista

Se nota que hoje ele está mais consistente emocionalmente. Como foi essa mudança?

Tenho trabalhado muito com ele esta parte, digo que o universo nos dá as coisas no momento certo.

Tinha alguns gestos que ele fazia brigando contra ele mesmo. E eu falei: 'você tem que se amar, gostar de você'. Disse que existe uma energia solta que ele tem que buscar. Fomos jogar golfe e detectei pequenos nós na parte mental dele, que um menino de 14 anos ainda não, mas um de 23, sim.

Pensei em usar todas as estratégias possíveis, ser amigão e colocar a mão no ombro, dar um beijo, ser carinhoso. Essas coisas acrescentam muito no lado mental de um jogador.

A filosofia foi também unir a família. Eu busquei a mãe dele, porque gosto muito de saber o passado do jogador. Ela me ajudou bastante, disse como era o Thomaz bebê, o Thomaz adolescente. Sempre que posso converso com ele sobre o quão bacana e a família dele, a irmã dele, o pai, um cara que apostou nele. Para ele saber que tem uma torcida por trás. Foi muito bacana essa união, isso da uma segurança muito boa para o filho.

E como aplicar isso dentro da quadra?

Pierra-Philippe Marcou - 06.mai.2011/France Presse

Bellucci em ação na partida que derrotou o tcheco Tomas Berdych pelas quartas de final, em Madri

Nos treinos, uma coisa que trabalhamos muito foi o volume, ele ficar mais tempo no ponto e aumentar a capacidade da forca mental. Foi bastante duro, porque ele não estava acostumado com esse volume de treinamento. E também a parte técnica, principalmente a mudança no saque. Ele sacava muito bem, todo mundo elogiava, dizia que era um saque potente. Mas hoje ele esta fazendo menos dupla falta hoje, esta jogando mais com o primeiro saque.

Taticamente, como foi essa mudança?

Eu abri um pouco a raquete, fiz ele acreditar que ao perder aquele "flat", aquela pancada, ele não ia perder forca. E ele acreditou, aceitou a mudança e aquele saque aberto na direita do adversário já esta virando uma marca registrada dele, ele esta ganhando bastante ponto com isso.

Durante os jogos, ele ainda te olha muito...

É que eu acho que o jogador tem que estar olho no olho do técnico. Eu não gosto de ficar estático, sempre serei aquele técnico pentelho. Se for para sentar e ficar de braços cruzados e anotando num caderno, me aposento e vou jogar golfe. O Thomaz acreditou nisso, e hoje olho para o Thomaz e o vejo um vencedor, muito confiante.

Faltava confiança antes?

Não acho que faltava confiança, mas ele ia do 0% ao 100%, se excitava muito. Existe uma diferença entre estar motivado e excitado, e nos pontos importantes ele estava sempre excitado. Isso acontecia muito com o Guga em 1998. Queria ir a todas a bolas. Naquela época, trabalhar a cabeça do Guga foi muito duro, tomei muita porrada. Mas usei minhas experiências dali e disse ao Thiago buscar motivação para o próximo tempo, não excitação. Estou muito feliz com os resultados. Com esse relaxamento, ele esta saindo mais do chão, girando o tronco mais rápido, a soltura dele esta muito maior dentro de quadra e ele esta gastando menos energia.

Que outras semelhanças você vê entre Thomaz e Guga?

Marcelo Ruschel/Divulgação

Larri Passos conversa com Gustavo Kuerten durante treino nos EUA para o Torneio de Cincinnati, em 2000

Eu sempre achei o Thomaz um jogador agressivo como o Guga, e não é de agora. É um cara que vai para as bolas. Ele também me surpreendeu pela capacidade sensorial, que é muito rápida. É um dom que o Guga também tinha, de entender o jogo. O posicionamento dele ainda não é como eu quero, mas eu já vieram me dizer que viram um pouco do Guga ali na quadra.

Ele é um novo Guga então?

Não. O Guga vai ser eterno. Até porque o Thomaz é um capricorniano. Não é um cara que brinca e pula que nem o Guga, é mais fechado, meio teimoso. Mas aos poucos vamos abrindo a cabeça dele. Ele já ganhou uma prancha, está surfando, o que nunca tinha feito antes. Procuramos tirar um pouco a cabeça dele só do tênis. Eu sempre gostei de esportes alternativos, acho que um jogador de tênis não pode ficar bitolado, pensar em tênis dia e noite. É bom falar um pouco de besteira fora das quadras, fazer piada, brincar. Quando terminamos o nosso treino, não falamos de tênis. Escutamos música, discutimos política, livros. E isso está ajudando bastante a ele.

Você imaginava que ele ia derrotar tão rápido os top 10?

Eu falei lá no início, na pré-temporada, quando todo mundo reclamava dele, que dava. Demos muita risada esta semana, porque aconteceu exatamente o que eu falei. Às vezes me chamam de bruxo, mas realmente as previsões que fiz em dezembro estão acontecendo hoje.

Há um antes e depois da semana do Masters de Madri?

Dani Pozo - 07.mai.2011/France Presse

Bellucci espera por serviço rival

A semana de Madri não foi só esta semana. Começou em Monte Carlo. Eu arrisquei. Depois de Miami, o Thomaz queria ficar em casa, mas eu insisti para ficarmos duas semanas no saibro europeu, para ganhar uma força mental. Tivemos alguns problemas que talvez um dia eu comente, mas superamos juntos e foi fundamental ele ter ido para lá, e para Barcelona, Estoril. Se o tenista não viver a Europa, não joga tênis.

Como você encarou o bom desempenho dele nesta semana?

Posso te dizer que chorei ao abraçá-lo no final do jogo com o Djokovic. A emoção que eu sinto quando eu abraço o Thomaz é de proteção. No jogo tenho que ser duro, mas dá uma sensação de ter um filho por perto. Daqui a pouco ele começa a me abraçar mais forte, e aí a troca de energia vai ser maior. Em outubro, quando ele me convidou para treinar, foi muito duro porque ele estava muito para baixo. Sabia que tinha uma batata-quente na mão. Mas agora essa batata está esfriando.

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